Uma característica bem comum neste um ano e meio de pandemia tem sido a otimização da comunicação a partir de mídias sociais para atingir o máximo possível de pessoas da população em menos tempo.
Porém, num recorte específico de São Paulo, o que tem acontecido vai além de maior divulgação de informações para a população. É o desrespeito aos processos, à confiabilidade em pesquisas, ritos oficiais e informação inicial aos que servem ao público e que precisam orientar a população e organizar os encaminhamentos.
São muitos os exemplos que podem ser citados, como o pronunciamento de medidas a partir de coletivas de imprensa, pegando a todos de surpresa. De uma hora para a outra, o serviço público que precisa ser regido pela publicação oficial de Instruções Normativas e Decretos fica de mãos atadas para responder aos questionamentos do público atendido. Pois ao mesmo tempo todos ficam sabendo do pronunciamento da notícia, mas desconhecem as regras, os pormenores, o formato pois não há nada deliberado oficialmente sobre isso.
No cenário da Educação, tomemos como exemplo o anúncio de que viria uma “bolsa” como tentativa de diminuir a evasão de estudantes do ensino médio da rede estadual ou o retorno de 100% dos estudantes cujas famílias estivessem interessadas no retorno presencial. É instantânea a enxurrada de ligações, atendimentos nos guichês e questionamentos nas redes sociais das escolas. Mas até a publicação oficial, não se sabe mais do que o que foi dito no pronunciamento, o que causa situações de instabilidade, falta de confiança e animosidade.
Outro fator de alerta é que neste formato, não há a divulgação de minutas das propostas para que se possa construir coletivamente os caminhos e soluções para os problemas apontados. Assim, corre-se mais risco de tomada de decisões aleatórias como a mudança de rodízio de carros e em seguida a supressão da tomada de decisão.
São Paulo está parecendo “terra de ninguém”. É mais importante acompanhar as redes sociais dos governantes e Secretários do que as publicações oficiais. Na sanha de anunciar primeiro e de trazer protagonismo, o oficial está sendo deixado de lado de uma forma bem perigosa. Uma das maiores cidades do mundo não pode ser regida a partir do apalavrado, dos 140 caracteres, do líquido.
Especificamente sobre a pandemia, fazem o pronunciamento de entrada em uma fase (pacote de medidas restritivas para diminuir a circulação de pessoas durante a situação de emergência), mas já prevêem, não no sentido de estimativa, mas de certeza que dali há tantas semanas a flexibilização será maior. Tal postura faz parecer que as decisões são baseadas em instrumentos outros que não científicos.
Um caso palpável nessa situação foi o aumento de atendimento nas escolas de 100% dos estudantes em forma de rodízio no mês de agosto, e sem nenhum tipo de análise ou instrumento de observação, já avisarem o retorno diário de 100% diariamente com obrigatoriedade do presencial. Não há o que, cientificamente, mantenha esse anúncio, além do óbvio aumento de revolta e desinteligência entre a população que enxerga que a “normalidade” não chega logo por desorganização das escolas ou folga dos servidores.
É preciso que medidas neste sentido sejam tomadas para que a excepcionalidade não seja a regra e que a democracia seja garantida. O respeito à oficialidade não é preciosismo. É vida em sociedade organizada e com instituições consolidadas. Qualquer medida que vá além da preservação de vidas e que ainda pretenda a capitalização num contexto de pandemia não pode nem ser considerada como civilizada ou humana. Instituições não devem agir no instantâneo. Se dá tempo de organizar a imprensa aberta, tem que ter dado tempo de gerar minuta e informação a quem atende a população e publicação oficial.